terça-feira, 8 de março de 2016

Mulheres Extraordinárias

Confesso que não morro de amores pelas mensagens que normalmente são compartilhadas no Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje em todo o mundo. Muitas vezes, elas apenas reforçam papéis e estereótipos. Torço por um dia em que a igualdade seja tal, que não seja necessário um dia especial para homenagear as mulheres e cobrar seus direitos. Torço por um tempo em que todos - homens e mulheres - tenham iguais oportunidades de desenvolver seus talentos. Como escreveu Caetano: Gente nasceu é para brilhar. Não importa o gênero.

Mas devo dizer: nesses oito anos de funcionamento do ateliê tive a oportunidade de conviver intimamente com muitas mulheres. E de admirar a estória de cada uma delas: mulheres que cuidam de filhos deficientes, de maridos acamados, de pais idosos, de famílias numerosas. Mulheres lutando contra o câncer e outras doenças; mulheres que trabalham duro e correm do emprego direto para cá, porque não abrem mão do desejo de auto-expressão. Que sabem conquistar seu espaço, buscam desenvolver a criatividade e fazer a diferença.

Hoje, então, gostaria de homenagear todas essas mulheres através de duas ex-alunas muito talentosas e determinadas: a Marilda e a Dalva.

No ano passado, na quarta-feira de cinzas, a Marilda perdeu uma batalha contra o diabetes: teve uma perna amputada. Mas isso não a define: ela é professora e artesã, além de cuidar com zelo de uma irmã deficiente. No meio de todos os afazeres, Marilda sempre fez questão de proporcionar à irmã oportunidades de desenvolvimento - ela pinta, desenha, borda e costura. Ao mesmo tempo, não abriu mão de si mesma e seus próprios talentos: foi aluna de destaque do Baú da Cotinha, participou conosco de inúmeros projetos voluntários e expôs muitas peças em nossos eventos.


Marilda exibindo um elaborado bloco concluído em uma de suas últimas aulas, em 2014.


Marilda e eu em projeto voluntário no CAPS - Centro de atendimento a pacientes da saúde mental, em 2011.


Hoje, um ano depois da perda de sua perna e das mudanças em sua vida que o episódio ocasionou, Marilda está mais ativa do que nunca: para meu espanto e admiração, na primeira conversa que tive com ela após a cirurgia, ela afirmou que pretendia concluir logo todas as peças em andamento - trabalhos que ela havia interrompido enquanto buscava tratamento e lutava contra um ferimento que não se curava. Mesmo morando em outra cidade e com dificuldades de locomoção, mantivemos contato por telefone e, com a ajuda de instruções "remotas", ela conseguiu terminar seus trabalhos. Não satisfeita, pediu um projeto para uma nova peça grande e difícil - presente para um familiar. Nem preciso dizer que ela já executou esse projeto também!


Sorridente e otimista logo após a cirurgia, em fevereiro de 2015.

Projeto planejado, iniciado e concluído após a cirurgia. Na hora de montar o sanduíche, o genro deu uma forcinha. 

No momento, Marilda está vivendo o processo de se adaptar ao uso de uma prótese; e já me avisou que qualquer hora dessas vai fazer surpresa: aparecerá aqui em Pouso Alegre para uma visita - dirigindo!

Parabéns, Marilda, pela determinação!

A outra ex-aluna que eu gostaria de homenagear é a Dalva Oliveira: uma costureira muito habilidosa que me procurou apenas para aprender as técnicas do patchwork. Fez poucas aulas mas aprendeu muito; precisou interromper o curso porque mora na zona rural de Congonhal, uma cidade vizinha, e os remédios que toma às vezes a deixam debilitada. Dalva tem Parkinson.

Recebi um telefonema da Dalva há algumas semanas: ela havia terminado o topo de uma colcha em patchwork e queria que eu quiltasse (o acolchoamento de uma peça grande envolve um esforço físico que realmente seria muito para ela). Apesar das limitações, ela havia calculado e executado sozinha uma colcha de casal. Tímida demais para aceitar ser fotografada, ela no entanto me autorizou a publicar a foto da colcha:



Há muitas outras alunas e ex-alunas determinadas que eu poderia citar: a Leda, que venceu recentemente uma batalha contra o câncer; a Diver, que lutou contra ele e perdeu, mas deixou uma marca em todas nós que convivemos com ela; a Consuelo, que sofreu uma fratura grave no tornozelo e, mesmo operada e em recuperação, não parou de produzir suas peças encantadoras; a Lílian, que está na fila para um transplante renal; a Eliana, que ficou viúva de repente um ano atrás (e que há alguns anos perdeu um filho de forma igualmente repentina). Enfim, são tantas estórias!

A lição maior que venho aprendendo com alunas como Marilda, Dalva e tantas outras é que todo mundo tem problemas, obstáculos, dificuldades. Mas, mesmo assim, não podemos desistir daquilo que gostamos de fazer e que nos proporciona bem estar. As responsabilidades e cobranças são muitas, e a gente corre o risco de acabar se perdendo, abrindo mão do desenvolvimento pessoal. O "tempo ideal" para realizar algo nunca chega; porque, na verdade, esse tempo é agora.

Deixo meus parabéns e meu agradecimento a todas as mulheres incríveis que são ou já foram minhas alunas. Com certeza eu também aprendi algo com cada uma de vocês.

Até a próxima!