quarta-feira, 31 de julho de 2013

Entendendo os Retalhos II

Eu prometi várias postagens sobre o assunto, então lá vamos nós de novo! Para não "pegar o bonde andando", não deixe de ler a postagem anterior sobre a utilização de retalhos.

Vamos começar dando uma olhada mais cuidadosa nesta peça, que já mostrei quando iniciei esse assunto:


Vamos ver o desenho original que eu havia feito no computador...


... e um bloco desmembrado:



Esclarecendo: muitos blocos de patchwork são construídos em "linhas", ou fileiras; este bloco é montado do centro para fora, e nesse caso eu chamo cada "volta" acrescentada em torno do centro de "nível"; a ilustração acima mostra que cada nível utiliza triângulos de uma certa cor. Repare que no último nível os triângulos coloridos são marrons ou verde-musgo; na verdade eu confeccionei 12 blocos - 6 de cada jeito.

Com isso em mente, já dá para saber o total de triângulos necessários de cada cor:

verde-abacate: 24
mostarda: 24
vinho/tijolo: 24
verde-musgo: 12
marrom:12
coringa (neutrinhos): 96

Hora de revirar as gavetas: se a idéia é um projeto tipo scrap, nada de selecionar 1 verde-abacate, 1 mostarda, 1 marrom, 1 coringa, etc; cate as sobrinhas. Conseguiu reunir 3 tons apropriados de mostarda? Corte 8 triângulos de cada. Escolheu 6 neutros diferentes? Corte 16 triângulos de cada e terá o total necessário - 96.

Trabalhando assim, você:

     - conseguirá uma peça realmente única, que ninguém terá como imitar, e com um visual mais dinâmico, menos "chapado" e "certinho";
     - economizará!
     - utilizará suas sobras e terá mais espaço nas gavetas para comprar novos paninhos...

Oops! Brincadeira rssss...olha o consumismo!

Agora, vou falar a verdade: para trabalhar assim, existe um grande obstáculo - o medo! A gente é doutrinada para pensar diferente, e é preciso ter um certo sangue-frio para misturar muitos paninhos em um projeto só. Mas eu garanto: é só uma questão de hábito, e depois não se consegue voltar para o velho esquema de usar maior quantidade de menos estampas.

Vamos ver mais um projeto? Esse eu não vou "desmembrar" - apenas mostrar e comentar brevemente. Use sua observação:


Em torno do medalhão central, há dois "níveis" de blocos* - dois designs diferentes: no primeiro nível são 12 blocos; no segundo, 16 blocos. Em ambos os casos, separei tecidos nas cores que pretendia usar - quantidades bem pequenas. E aí fiz uma distribuição mais ou menos homogênea: se olhar direitinho os 16 blocos finais, vai notar que há 4 esquemas de cores, e 4 blocos de cada esquema = 16 blocos. Se eu quisesse que os blocos fossem idênticos, com certeza não ia ter tecido suficiente.

*Para ver fotos mais detalhadas da construção dessa peça (e a ilustração original do computador), clique aqui.

Agora repare na moldura do medalhão central e na moldura final - "dentadas" e multicoloridas: eu simplesmente calculei o número total de triângulos necessários, fiz uma seleção de cores, e cortei um tanto em cada tecido. Pronto: peça "scrap" e gavetas menos entulhadas!

Espero que essas postagens estejam ajudando a compreender melhor esse assunto - pelo menos para quem perguntou a respeito, não é, Márcia?

Fica a dica, então: os fabricantes estão investindo cada vez mais em coleções temáticas, estampas coordenadas, padronagens deslumbrantes... não vou dizer que de vez em quando eu não me jogo nessas novidades; mas essa facilidade de acesso aos tecidos lindões atrapalha nossa criatividade se não impomos limites. A verdade é que não precisamos de nada disso. Precisamos só de imaginação

Até a próxima!

terça-feira, 16 de julho de 2013

Estilos de patchwork: Entendendo os Retalhos

Hoje vamos falar sobre retalhos. Eu sei, não parece novidade – este é um blog de patchwork, então é claro que falamos de retalhos!

Mas eu quero dizer retalhos, mesmo. Tempos atrás eu escrevi uma postagem sobre a história e os rumos do patchwork em meu blog sobre fibras têxteis, e esses dias postei o link na página do ateliê no facebook. Uma pessoa fez um comentário muito pertinente:

Quando comecei a me interessar por patchwork, eu achava que era aproveitamento de retalhos, mas vi que estava enganada. O que tenho visto, é utilização de três ou quatro estampas para formar um desenho, então temos que comprar grande quantidade de cada estampa, o que torna a peça cara. É difícil, pelo menos para mim, ver trabalhos com aproveitamento de retalhos.

É assim mesmo que tem acontecido... como escrevi no artigo que citei acima, a essência do patchwork tem se perdido e a gente acaba tendo a impressão de que é um artesanato que gera desperdícios. Por conta disso, então, vou começar hoje uma série de postagens sobre a utilização de retalhos – o assunto é amplo e não daria para concentrar tudo em uma postagem só.

Primeiro vamos aprender a diferenciar dois tipos de patchwork: eu os batizei de “clássico” e “scrap”.  

Em uma peça clássica, poucos tecidos são utilizados. Forma-se o design com menos cores, e apenas uma estampa representa cada cor:


("Winter Dreams Quilt" por Evelyn Sloppy)
Repare que há cinco estampas neste painel: dois tons florais, mais o vermelho, o verde e o caramelo.


Já uma peça "scrap" envolve uma grande quantidade de estampas misturadas... e normalmente a gente só enxerga como "scrap" uma peça óbvia assim: 

("Feed Sack Quilt" por Kim Brackett)

O que normalmente acontece é que quando uma pessoa está aprendendo patchwork ela ainda não dispõe de sobrinhas: precisa comprar tecidos para todos os projetos que vai fazer, e por isso começa pelos estilos mais clássicos; com o tempo, sim, vai colecionando retalhinhos, mas não sabe como lidar com eles. As publicações em geral oferecem muitas idéias de peças com desenho geométrico marcante, e uma pessoa inexperiente acha que esses projetos são obrigatoriamente clássicos - normalmente são mostrados em versões assim, utilizando poucas estampas. Entra aí também a questão da insegurança: é muito mais seguro planejar uma peça clássica, com poucas estampas... e aí a gente fica preso dentro de uma categoria só e acumula cada vez mais retalhos.

Aqui no ateliê eu procuro ensinar uma filosofia diferente: sempre que possível encorajo os alunos a planejar projetos para os tecidos que já possuem - e não escolher um projeto e depois ir à loja comprar tecidos para confeccioná-lo. Isso se torna possível quando a gente compreende o seguinte: MESMO OS PROJETOS DE VISUAL CLÁSSICO PODEM SER CONFECCIONADOS COM SCRAPS. Simples assim. Vamos ver isso melhor?

Observe este painel:

("Outono na Mantiqueira", 2010, design e confecção meus)

Numa primeira olhada, a impressão que se tem é de um projeto clássico - e originalmente ele foi desenhado assim. No entanto, na hora de separar os tecidos eu simplesmente me joguei no gavetão das "sobrinhas": eu precisava de cores outonais - verde, marrom, mostarda, vinho, ferrugem; ao invés de separar UMA estampa para cada cor - o que certamente me obrigaria a ir às compras - eu separei vários vinhos, vários mostardas, vários verdes, etc.

E como administrar isso na hora de cortar o projeto? Aí entra uma matemática simples: 


PRECISO DE 24 TRIÂNGULOS VERDES NO TAMANHO X
+
TENHO 6 ESTAMPAS VERDES DE TOM APROPRIADO
=
VOU CORTAR 4 TRIÂNGULOS DE CADA ESTAMPA!


Trabalhando dessa forma, nenhum dos tecidos será usado em grande quantidade: ao invés de correr para a loja, vou aproveitar um pouco das minhas sobrinhas acumuladas! Se reparar bem na foto acima (clique para ampliá-la), vai perceber que até os "coringas" - os neutrinhos - são sobras: tem coringa branco, creme, acinzentado, amarelado... o único tecido utilizado em quantidade maior foi o da borda. Mesmo assim, eu poderia ter inventado uma borda "scrap" (e vamos ver isso em postagens futuras).

Voltemos agora ao painel de Natal que mostrei acima como exemplo de peça clássica. Vamos supor que você pretenda confeccioná-lo, mas não tenha quantidade suficiente dos tecidos necessários. Use o mesmo raciocínio: separe suas sobrinhas de vermelhos, verdes, caramelos, etc. Conte, por exemplo, quantos triângulos vermelhos precisa; veja quantas estampas vermelhas tem, e corte um punhado de triângulos de cada uma, até ter a quantidade necessária. Vou arrumar um tempinho para fazer este painel em estilo scrap, e aí vamos compará-los. Breve.

Em futuras postagens vamos falar mais sobre esse tema - e vou "destrinchar" aqui o painel em espirais acima; por enquanto, fiquem com mais fotos* de peças que aproveitam retalhos sem ter, necessariamente, a aparência de colchinha da vovó. 

Até a próxima!

*as fotos são todas do site da editora Martingale's - ótimo lugar para pesquisar e aprender sobre estilos e diferentes possibilidades!







quarta-feira, 10 de julho de 2013

Lição 5: Canto Quebrado

Hoje vamos aprender uma técnica que dá conta de mais dois bloquinhos do projeto de Natal utilizado como modelo em nossas lições: o canto quebrado. Trata-se de um triângulo modificando o formato de uma peça maior. Repare nos dois primeiros blocos da ilustração abaixo:


Compare o desenho do bloco com sua representação na grade: a guirlanda é formada por retângulos e bipartidos, que a gente já aprendeu; já o centro dela é formado por um quadrado em cor neutra, que teve os cantinhos "quebrados" para conferir um formato arredondado.

O segundo bloquinho até poderia ser feito pelo método tradicional: teríamos um diamante vermelho e acrescentaríamos quatro triângulos amarelos. Mas não fica muito bem feito. O mais eficaz aqui seria cortar um quadrado vermelho e "quebrar os cantos" em amarelo. Mas vamos ver como fica isso, com cálculos e tudo o mais.

Bloco guirlanda:

De acordo com nosso projeto original, o bloco mede oito polegadas. Isso significa que cada quadradinho da grade vale 2". Nossa lista de corte fica assim:

Para os quatro cantos, que são bipartidos, corte:

- 2 quadrados verdes de 2 7/8" - renderão os 4 triângulos necessários;
- 2 quadrados brancos de 2 7/8" - renderão os 4 triângulos necessários (o procedimento para costurá-los está na lição 4);

Temos também 4 retângulos verdes que medirão 4" x 2"; serão cortados, portanto, com 4 1/2" x 2 1/2".

E o centro?

Examine a ilustração novamente: o quadrado central mede 4" x 4"; você vai precisar então cortar um quadrado branco com 4 1/2"; agora repare que o cantinho quebrado ocupa apenas metade do quadradinho da grade; o quadradinho não vale 2"? Então o cantinho quebrado mede 1". Se depois de costurados esses cantinhos vão medir 1", então você vai precisar cortar 4 quadradinhos verdes medindo 1 1/2".

Próximo passo: risque uma linha no avesso desses quadradinhos, bem na diagonal. Para costurar a gente faz assim:


1. posicione os quadradinhos verdes nos cantos do quadrado branco, direito com direito;
2. costure em cima da linha riscada, como mostra o pontilhado;
3. corte 1/4" além da costura, como mostra a linha vermelha; 
4. passe a ferro as pontinhas dos triângulos verdes, virando-as para fora.

Pronto! É só isso. A mesma técnica é usada para costurar o segundo bloquinho, mas os tamanhos são diferentes. Vamos observar a ilustração novamente:

- de acordo com o projeto original, o bloquinho mede 4 polegadas; corte o quadrado vermelho, então, com 4 1/2";

- Nessa grade, cada quadradinho vale 1"; repare que o canto quebrado amarelo ocupa dois quadradinhos- ou seja, mede 2"; corte então 4 quadradinhos amarelos de 2 1/2";

- Siga o procedimento de montagem explicado acima. Pronto!

Agora você já tem boa parte dos blocos para montar o painel de painel de Natal:


Os bloquinhos com anjos, carneirinhos e estrelas são feitos em appliqué; a casinha pode ser feita em foundation ou patchwork clássico; e o pinheiro é feito em flying geese - ou "gansinhos". Aprenderemos essas técnicas nas próximas lições.

Até lá!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Em Ritmo de Mostra

O segundo semestre acaba de começar, e é o momento em que começamos a organizar a mostra anual do Clube do Retalho, que todos os anos encanta os visitantes com trabalhos de alunas do ateliê. Esse ano será a 5ª mostra, e só porque "5" é um número tão redondinho a gente pretende caprichar mais do que nunca. A começar pela escolha do local. Em 2009 a mostra aconteceu na galeria do Conservatório Estadual de Música, e nos três anos seguintes - 2010, 2011 e 2012 - na Galeria Artigas. Este ano estamos planejando algo diferente, e eu a e a Consuelo Gonçalves - aluna que comanda o Clube do Retalho junto comigo - já estamos cuidando disso. Mas o local é surpresa - em breve divulgaremos.

Todos os anos nós expomos peças "genéricas" - patchwork geométrico sem tema específico, livre criação das artesãs - e peças temáticas. O tema escolhido é sempre bem brasileiro e nosso objetivo com isso é encorajar as artistas a fugir aos padrões estrangeiros que normalmente predominam no mundo do patchwork e pensar em ilustrar nossa própria cultura. Em 2012 o tema foi a música brasileira.

O tema deste ano promete arrasar. Mas enquanto não revelamos, aprecie as fotos abaixo, da mostra do ano passado.

Até breve!

"Bandeira do Divino", trabalho meu


"Romaria", trabalho De Elaine Rabelo

"Carinhoso", trabalho de Isabel Justo

"Aquarela", de Kelly Prates

"Peixe Vivo", trabalho de Vera Monteiro

"Construção", trabalho de Consuelo Gonçalves


Painel na técnica bargello, trabalho meu

"Paisagem da Janela", trabalho de Consuelo Gonçalves


"Simplicidade", trabalho meu 

"Pitágoras", na parede, e "Picadinho da Vovó", no banco - ambos trabalhos meus

Painel da Consuelo Gonçalves na parede; peças natalinas da Natália Rezende; almofadas minhas e da Marilena Teixeira

"Verde", trabalho meu

"As Rosas Não Falam", trabalho de Vera Monteiro

O vencedor do juri popular: "Esperando na Janela", de Consuelo Gonçalves.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Serviços de Quilt Livre

O que é QUILT?

Em inglês, "quilt" é um acolchoado, e nós que fazemos patachwork no Brasil acabamos tomando emprestado o termo original.

"Quilt" é também uma costura que se faz para prender um "sanduíche" - que é um "topo" em patchwork + um recheio de manta acrílica + forro. Assim temos um acolchoado. O quilt é, portanto, utilitário, mas também é extremamente decorativo e valoriza MUITO um trabalho (repare só no quilt livre das peças abaixo).

Se você faz patchwork mas ainda não domina o quilt livre (que não é difícil mas requer um certo tempo de prática), pode encaminhar suas peças semi-prontas para serem finalizadas no ateliê. Entre em contato e converse conosco, ou marque uma visita sem compromisso.



"Candeias", painel baseado na canção de mesmo nome de Edu Lobo; participou da 4ª Mostra de Patchwork de Pouso Alegre, em 2012, cujo tema era a música brasileira

Esta peça infantil foi inteiramente confecionada durante as demonstrações da 3ª Mostra de Patchwork de Pouso Alegre, em 2011. Foi doada para o bingo da Creche Foch em 2012

"Simplicidade", colcha de casal confeccionada em 2012

Detalhe do quilt livre da colcha "Simplicidade"