terça-feira, 16 de julho de 2013

Estilos de patchwork: Entendendo os Retalhos

Hoje vamos falar sobre retalhos. Eu sei, não parece novidade – este é um blog de patchwork, então é claro que falamos de retalhos!

Mas eu quero dizer retalhos, mesmo. Tempos atrás eu escrevi uma postagem sobre a história e os rumos do patchwork em meu blog sobre fibras têxteis, e esses dias postei o link na página do ateliê no facebook. Uma pessoa fez um comentário muito pertinente:

Quando comecei a me interessar por patchwork, eu achava que era aproveitamento de retalhos, mas vi que estava enganada. O que tenho visto, é utilização de três ou quatro estampas para formar um desenho, então temos que comprar grande quantidade de cada estampa, o que torna a peça cara. É difícil, pelo menos para mim, ver trabalhos com aproveitamento de retalhos.

É assim mesmo que tem acontecido... como escrevi no artigo que citei acima, a essência do patchwork tem se perdido e a gente acaba tendo a impressão de que é um artesanato que gera desperdícios. Por conta disso, então, vou começar hoje uma série de postagens sobre a utilização de retalhos – o assunto é amplo e não daria para concentrar tudo em uma postagem só.

Primeiro vamos aprender a diferenciar dois tipos de patchwork: eu os batizei de “clássico” e “scrap”.  

Em uma peça clássica, poucos tecidos são utilizados. Forma-se o design com menos cores, e apenas uma estampa representa cada cor:


("Winter Dreams Quilt" por Evelyn Sloppy)
Repare que há cinco estampas neste painel: dois tons florais, mais o vermelho, o verde e o caramelo.


Já uma peça "scrap" envolve uma grande quantidade de estampas misturadas... e normalmente a gente só enxerga como "scrap" uma peça óbvia assim: 

("Feed Sack Quilt" por Kim Brackett)

O que normalmente acontece é que quando uma pessoa está aprendendo patchwork ela ainda não dispõe de sobrinhas: precisa comprar tecidos para todos os projetos que vai fazer, e por isso começa pelos estilos mais clássicos; com o tempo, sim, vai colecionando retalhinhos, mas não sabe como lidar com eles. As publicações em geral oferecem muitas idéias de peças com desenho geométrico marcante, e uma pessoa inexperiente acha que esses projetos são obrigatoriamente clássicos - normalmente são mostrados em versões assim, utilizando poucas estampas. Entra aí também a questão da insegurança: é muito mais seguro planejar uma peça clássica, com poucas estampas... e aí a gente fica preso dentro de uma categoria só e acumula cada vez mais retalhos.

Aqui no ateliê eu procuro ensinar uma filosofia diferente: sempre que possível encorajo os alunos a planejar projetos para os tecidos que já possuem - e não escolher um projeto e depois ir à loja comprar tecidos para confeccioná-lo. Isso se torna possível quando a gente compreende o seguinte: MESMO OS PROJETOS DE VISUAL CLÁSSICO PODEM SER CONFECCIONADOS COM SCRAPS. Simples assim. Vamos ver isso melhor?

Observe este painel:

("Outono na Mantiqueira", 2010, design e confecção meus)

Numa primeira olhada, a impressão que se tem é de um projeto clássico - e originalmente ele foi desenhado assim. No entanto, na hora de separar os tecidos eu simplesmente me joguei no gavetão das "sobrinhas": eu precisava de cores outonais - verde, marrom, mostarda, vinho, ferrugem; ao invés de separar UMA estampa para cada cor - o que certamente me obrigaria a ir às compras - eu separei vários vinhos, vários mostardas, vários verdes, etc.

E como administrar isso na hora de cortar o projeto? Aí entra uma matemática simples: 


PRECISO DE 24 TRIÂNGULOS VERDES NO TAMANHO X
+
TENHO 6 ESTAMPAS VERDES DE TOM APROPRIADO
=
VOU CORTAR 4 TRIÂNGULOS DE CADA ESTAMPA!


Trabalhando dessa forma, nenhum dos tecidos será usado em grande quantidade: ao invés de correr para a loja, vou aproveitar um pouco das minhas sobrinhas acumuladas! Se reparar bem na foto acima (clique para ampliá-la), vai perceber que até os "coringas" - os neutrinhos - são sobras: tem coringa branco, creme, acinzentado, amarelado... o único tecido utilizado em quantidade maior foi o da borda. Mesmo assim, eu poderia ter inventado uma borda "scrap" (e vamos ver isso em postagens futuras).

Voltemos agora ao painel de Natal que mostrei acima como exemplo de peça clássica. Vamos supor que você pretenda confeccioná-lo, mas não tenha quantidade suficiente dos tecidos necessários. Use o mesmo raciocínio: separe suas sobrinhas de vermelhos, verdes, caramelos, etc. Conte, por exemplo, quantos triângulos vermelhos precisa; veja quantas estampas vermelhas tem, e corte um punhado de triângulos de cada uma, até ter a quantidade necessária. Vou arrumar um tempinho para fazer este painel em estilo scrap, e aí vamos compará-los. Breve.

Em futuras postagens vamos falar mais sobre esse tema - e vou "destrinchar" aqui o painel em espirais acima; por enquanto, fiquem com mais fotos* de peças que aproveitam retalhos sem ter, necessariamente, a aparência de colchinha da vovó. 

Até a próxima!

*as fotos são todas do site da editora Martingale's - ótimo lugar para pesquisar e aprender sobre estilos e diferentes possibilidades!







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