O parágrafo acima abre o terceiro capítulo do livro Drawing on the Right Side of the Brain - "Desenhendo com o Lado Direito do Cérebro" - de Betty Edwards. Por "informação sensorial" podemos entender tudo aquilo que nossos sentidos absorvem. Em nosso caso, como artesãos, o quanto absorvemos? De onde vem o material que nossos sentidos absorvem? E o quanto estamos dispostos a correr o risco de não usar as informações do jeitinho que recebemos, e sim processá-las e criar algo inteiramente novo?
Esses dias uma aluna minha estava aborrecida - e com razão: encontrou no facebook de uma pessoa estranha a foto de um trabalho seu. Uma peça exclusiva, idealizada por ela, e confeccionada aqui no ateliê entre boas risadas e muita criatividade que envolveu técnicas diversas como a feltragem com lã de ovelha, fuxicos, apliques de crochê, trabalho com contas e pedaços de uma antiga camisola de rendinhas!
Este trabalho foi planejado e confeccionado pela Consuelo Gonçalves para a 4ª Mostra de Patchwork de Pouso Alegre, cujo tema foi a música brasileira, e é uma homenagem à canção "Esperando na Janela", sucesso na voz de Gilberto Gil. A idéia de usar como modelo as tradicionais bonecas namoradeiras de Minas Gerais é original - não copiamos de lugar algum. O projeto não tem receita: fomos inventando à medida que o trabalho ganhava vida.
Depois que a peça foi apresentada, outras alunas quiseram fazer igual, mas eu as desencorajei: o bacana é se inspirar na idéia boa de alguém - nunca copiar. Mas, nesse mundão que é a internet, a foto da peça acabou na página de uma artesã desconhecida, sem o crédito, e aceitando encomendas! Como a pessoa vai conseguir imitar esta peça tão única eu ignoro.
Respondendo às questões que fiz acima:
1) O quanto absorvemos vai depender de nossa observação. Uma das lições que a autora ensina no livro que citei é enxergar.Ver com olhos diferentes. Treinar os olhos para ver além do corriqueiro. Para reparar em detalhes.
2) O material que nossos sentidos absorvem está em toda parte: na internet, em livros e revistas, no facebook alheio rsrsrs... e na vida a nossa volta. Uma pessoa criativa consegue juntar uma idéia que viu ali, com outra que tirou daqui, mais uma cena que viu no parquinho esta manhã... e criar algo totalmente original.
3) É claro, copiar o que alguém já fez antes é bem mais seguro, pois você já conhece o resultado. Mas não tem graça nenhuma. Precisamos correr o risco de criar realmente.
Infelizmente, esse raciocínio não é muito seguido nos dias de hoje - em que tanta gente faz artesanato. Não creio que a pessoa que postou a foto do trabalho acima e aceitou encomendas esteja agindo por má fé: apesar de errado, isso é natural - e até cultural: trabalhos originais nem sempre têm o respeito merecido; não se pára para pensar e diferenciar um trabalho banal e repetitivo daquele que é exclusivo. Acredito que a maioria das artesãs olhe para uma peça e diga: "Posso ganhar dinheiro se fizer peças iguais a essa", quando na verdade deveria pensar: "Vou pesquisar mais possibilidades e aprender novas técnicas para que eu também possa criar peças assim". Eu acrescentaria que toda artesã deve também se conhecer, e conhecer o mundo a sua volta, de modo que possa sempre buscar temas novos dentro de si e ao seu redor.
Vamos, então, refletir e mudar essa cultura de apenas copiar, e nunca criar? Não dói nada, eu garanto!
Até a próxima!
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